SEM DÚVIDA, O CLÍMAX DA WEB NOVELA!
Parte 20 – Refeição
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Seus olhos de serpente encontraram os meus no nada, seus olhos de serpente encontraram os meus, e mesmo com aquele sangue em seus lábios, não podia recusar a sua boca, jamais...”
Tudo o que eu queria era mesmo ficar perto de você, todo mundo via a sintonia de nós dois, os meus amigos eram seus e na amizade o amor está.
A semana passou como num passe de mágica, Fábio não apareceu mais. Rafael permaneceu de “boca fechada”, mas a hora de Soso havia chegado.
-Preciso me alimentar! –ela disse.
-Não olhe para o meu pescoço! – disse Rafael enrolando a cortina no pescoço.
-Tem algum lugar onde podemos levá-la? Uma fazenda abandonada? – eu perguntei enquanto tentava contê-la.
-Claro, a fazenda da rede Record, está repleta de vacas, galinhas, porcos e muita baixaria!Morda o Brito Jr. ! – ele respondeu.
-Rafa, isso não é uma brincadeira! – respondi com raiva.
Os olhos de Soraya estavam opacos, sem coloração e seu rosto parecia ter perdido todo o rubor de sua juventude. Estava fraca, não sabia que ficar por um tempo prolongado sem se “alimentar”, a levaria uma grande perda de energia.
-Temos o antigo “Simba safári”, lá teremos vários animais que andam livremente pelas campinas! – ele respondeu.
-Sim, eu já visitei esse zoológico quando era menor!Perfeito! Pegue o carro que não podemos perder mais tempo!- falei.
Logo, entramos no Ford Fusion e Soraya se contorcia, achei que estava tendo uma convulsão, segurei seus pulsos e tentei acalmá-la.Ao chegarmos, Rafael constatou que o parque estava fechado, o que seria melhor para nós.
Pulamos um enorme portão carregando Soraya nos ombros. Procuramos animais, estava escuro e Rafael iluminava o caminho com a luz do celular, fiz o mesmo quando...
-Onde ela foi? – perguntei, olhando ao redor, e quase derrubando o celular.
-Se alimentar, oras! – Rafael respondeu com mais uma de suas respostas óbvias.
-Você dá respostas tão óbvias que tenho vontade de socar a sua cabeça naquela árvore! – eu disse.
Uns sussurros e gemidos vinham atrás de uma fileira de árvores. Conforme andávamos eu podia imaginar o que encontraria a alguns passos a frente. Respirei fundo e continuei a caminhar.
Iluminei o local e pude ver Soraya mordendo um cervo, uma gazela, na realidade não dava para identificar o ser ensangüentado. Havia sangue pelo chão e nas vestes do meu amor. Rafael desmaiou ao ver a cena.
Priesly levantou os olhos do cadáver e me fitou com os seus olhos de serpente, verdes e flamejando como faíscas do súbito corpo em chamas. Era um misto de arrependimento e desejo incontroláveis. Eu a entendia, apesar de nunca ter visto situação parecida. Dei um leve sorriso sem graça, como forma de apoio ao monstro que eu amava. Eu disse monstro? Bem, e apenas torcia para que não fosse a próxima refeição. Ela se levantou para me abraçar, agora chorava.
Seu choro misturava-se com os meus soluços e uma leve tremedeira foi transmitida do seu corpo para o meu. Ela segurou meus braços com uma força incrível, lançou seu olhar penetrante para mim e disse:
-Eu sou horrível, Wend! – chorava muito, enquanto me sujava com o sangue do animal.
-Você não é horrível, você não tem e não teve culpa de nada!- tentei confortá-la, mas o cheiro do sangue fazia o meu corpo recuar e já não estava agüentando esta situação.
-Eu sou uma monstra, um ser abominável! – me disse mais uma vez.
-Pare de se lamentar, a culpa de tudo isso é do tal “filho do esperto”, mas se esse idiota aparecer no nosso caminho, eu juro que...
Ela me silenciou com um dedo em minha boca, o cheiro do sangue voltou a inflar minhas narinas. Tentou me beijar, mas afastei a cabeça tentando me esquivar, suas mãos me seguravam e foi inevitável. Nossas bocas se tocaram, e dentro de segundos eu sentia o amargo sabor do sangue de um bicho percorrendo minha boca e conseqüentemente minha garganta. Exótico, estranho, asqueroso, foram os adjetivos mais adequados para descrever o gosto e a sensação. Rafael permanecia imóvel no chão, enquanto eu e Soraya tentávamos agir como nada tivesse acontecido. Mas, se esta foi a prova de coragem e de limite do nosso amor, por que eu ainda tinha a sensação de que a perderia em breve?